Edson Bueno de Camargo
quando o mar
devolver seus mortos sem sepulcro
estarei na praia
a esperar meus amigos
abraçarei seus ossos mareados
que lavarei com cuidado e zelo
e lhes darei o devido enterro
cantarei canções de ninar cadáveres e esqueletos
e lembrarei mais tarde
ao som de tambor
ao redor de uma grande fogueira
do dia em que fiquei para trás esperando
pois que eu tenho uma dívida com o mar
assim como ele me deve
por isso não consigo mais andar sobre a s águas
nem posso ter pedras dentro da cabeça
ao modo dos peixes
nem dormir agarrado a remos
no fundo de barcos de longo calado
penso nas marcas dos pés sobre a areia
e no dia que sai da casa de meus pais
para não morrer no mar
sei que lá estão meus companheiros
em paciente espera do dia
que o mar nos devolva todos a vida
5 comentários:
também estarei lá
levarei alguns cigarros para alguns deles
belo poema, companheiro
Esse nosso (eternizado) retorno nos faz tristes. Não devíamos ter saído das águas. Excelente o desenvolvimento do seu texto, desde a idealização, vê-se. Abraços, Pedro.
Edson, penso no mar como a origem da vida - por que não também o seu término? Por que não imaginar, poeticamente, um reencontro final?
bj
Gosto dos que têm tempo para ancorar lembranças, encalhar memórias no cais, e marcar encontros com náufragos: esta forma de não se deixar secarem os dias, afogados de alto-amar adentro.
O meu abraço.
dá uma olhada no bde em
www.bardoescritor.net
[]s
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