quinta-feira, 7 de outubro de 2010

sangue



Edson Bueno de Camargo



1

dançarinas de ventre
rodopiam espirais
na chama sagrada

cabelos com espigas
e vindimas
umbigos iluminados

2

olhos de gato
(deuses guardiões)
visão de escuro
um punhal em miniatura

tudo se repete esta noite
desde a noite primeira

unhas e dentes ferozes
matam e sangram na graça

a beleza também está
na seiva humana
que verte nas pedras

3

os deuses não bebem sangue
de ímpios e impuros
os deuses bebem nosso sangue
se merecermos

mas nosso sacrifício é em vão
se o coração verdadeiro não for imolado
só o amor é a paga perfeita
só que nos é mais caro é dádiva

4

na sala dois relógios parados
como se o tempo não perpetrasse ali
como se na falta de horas e minutos
outra coisa fosse devorada

a morte do tempo é a entropia
não é possível vida
sem morte

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