Edson Bueno de Camargo
1
dançarinas de ventre
rodopiam espirais
na chama sagrada
cabelos com espigas
e vindimas
umbigos iluminados
2
olhos de gato
(deuses guardiões)
visão de escuro
um punhal em miniatura
tudo se repete esta noite
desde a noite primeira
unhas e dentes ferozes
matam e sangram na graça
a beleza também está
na seiva humana
que verte nas pedras
3
os deuses não bebem sangue
de ímpios e impuros
os deuses bebem nosso sangue
se merecermos
mas nosso sacrifício é em vão
se o coração verdadeiro não for imolado
só o amor é a paga perfeita
só que nos é mais caro é dádiva
4
na sala dois relógios parados
como se o tempo não perpetrasse ali
como se na falta de horas e minutos
outra coisa fosse devorada
a morte do tempo é a entropia
não é possível vida
sem morte
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