quinta-feira, 30 de abril de 2009

Goiás Velho




Edson Bueno de Camargo

a velha
o cão
e o rio

a velha cozinha poesia na velha panela de cobre e faz doces
o cão dormita o sono do mundo
e o rio corre sem pressa para a eternidade

parte

Edson Bueno de Camargo

onde em minha índole.
se esconde o ser feminino
e que me fala esta parte
ainda obscura em mim

tenho aprendido
a ouvir esta voz quase calada
sussurro suave sublime
sob subjugo cruel e impiedoso
de patriarcados e opressões religiosas

mas sinto:
carrego mais da grande mãe
da terra que criou tudo e chama tudo de volta
do que tenho me apercebido

há uma geradora de início de tudo
há uma criadora de mundos
há uma necessidade maternal
sob a pele grossa e dura
de criar a verdade com a palavra
palavra princípio feminino por excelência
pois as coisas se criam assim que nomeadas

a poesia
é a mulher onde está o melhor de mim agora

abraço

Edson Bueno de Camargo

quando fecho os olhos
um escuro sólido me envolve
confortável
como abraço
de velha mãezinha

a qual abraça o filho retornado
depois de muitos anos de guerra

teu desenho

Edson Bueno de Camargo

teu perfil
risca a noite
em perfume que indica
tua sombra
quase tátil
pelo olfato dos olhos

com ouvidos ou sem
ausente a luz é quase o mesmo
e ainda assim busco teu desenho
com o feixe nervoso da ponta de meus dedos

mesmo que com a imagem lembrada
concebo cada detalhe
ciclos passados em turvas turmalinas
estas que emprestam sua cor à noite