quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

a bela fuma cigarros

Edson Bueno de Camargo

não há halos

luz de meu entorno

são natimortos em minha presença

os rastros de luminescência

partículas capturadas pelo instante

a bela fuma cigarros na sacada

tentando fugir com a fumaça

e suas promessas de liberdade

o verdugo dança uma polca

comanda seus parvos de cinza na pocilga

constrói castelos de ossos e alicerces de sangue

anjos

Edson Bueno de Camargo


anjos quando são pedra

não sonham

deixando o sonhar

não choram

não vertem suas lágrimas ao luar

dormem na rocha

todo o instinto

até que libertam

o grito mineral

as rosas esta tarde

morderam a pouca luz de teus olhos

quando o vento soprou espelhos na praia

onde relâmpagos deram seu beijo

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

girinos azuis

Edson Bueno de Camargo

Nerfertiti grafada sobre a pele negra

suporte ideal

da beleza que cresce sobre a beleza

olhos desconfiados de Lornhons

gata de pele lisa de lontra

ainda que a loucura não passe

passemos nós

o amor é esta febre terçã

que entorna a realidade

sob a qual sucumbe a razão

sempre tive ódio do papel em branco

suas insinuações de rascunho

seu nada incomodante de princípio de tudo

depois vem as garatujas

de girinos azuis nas margens

os arabescos de uma linguagem arcaica

de antes de tudo começar

tecido cobertor

Edson Bueno de Camargo

linha de bordado
urde campos
trama altos e planos
compõe a linha do horizonte em dobrados
o trabalho da velha lançadeira

uma urze
planta que
se finca no solo com destreza
imediatamente as raízes passam a respirar terra

e deste tecido cobertor
com a lã de velocinos de ouro
cobrir as costas do velho
para que este passe a dormir tranqüilo