segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

princípio de tudo

Nuvens de Gás e Poeira na Nebulosa Águia.

Edson Bueno de Camargo

estrelas são como as almas petrificadas
daqueles que já nascem tão antigos
que sentem saudades
bem antes de ter vivido
pois agregam em si
a destruição de acasos
forjados no princípio de tudo

novas palavras

Edson Bueno de Camargo


não inventario novas palavras
estas me inventam
com boca de sede insaciável
e primaveras com dentes

as letras são códigos completos
cada uma
carrega um poema vítreo
olhos de peixes fossilizados
em complexidade

toda a palavra é criação
desde o princípio de tudo
até o último suspiro da matéria escura

desde a água vermelha
que me completa
até as pedras calcárias
produzidas em meus rins

efígie

Edson Bueno de camargo


o olho de uma mulher
é uma efígie

e todo aquele
que se aventurar
além do limite do horizonte conhecido
mergulhará em um vazio escuro

onde em frio espaço
em silêncio de pedras
de queda interminável
estarão todas as respostas

e nenhuma será reconhecida

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

plano

Edson Bueno de Camargo

um peixe
com um dado
desenhado no dorso
qual tatuagem

de um azul elétrico
de facas de aço novo
que corre o corte

e soa em harmonia perfeita
de pássaros pendentes
em fios que seguram o horizonte
entre postes
cinco linhas matemáticas
pauta natural

em geometria própria
a música do universo
que emenda vidro e cristal
(como grito)

e tudo são olhos
de ver verticalidades das montanhas
que ocupam silenciosamente
o fundo do plano

insetos iluminados

Edson Bueno de Camargo


vejo a cidade do alto
tudo são luzes
e movimento
todos fogem o tempo todo
de longe não faz sentido
e é belo

tem-se a impressão
que nunca se chega
que o ciclo nunca termina

os automóveis de longe
não são mais que insetos iluminados


“estos ojos que me fitam
no son más que espejos”

nome das coisas

Edson Bueno de Camargo


1

aprender o nome das coisas
andar sobre o fogo
a medida que estas se criam

a criança traça o universo
com sua língua singela
portanto precisa
dando nome próprio
às coisas próprias

depois os mestres
lhes confrontam o que consideram errado
reprimindo um mundo novo
e em criação
recriando um velho e deformado

2

o verdadeiro nome das coisas
apreende-se à medida
que estas se criam

todas as coisas

Edson Bueno de Camargo

I

qual a distância
do latido de um cão?

II

esta lua trouxe para minha casa
uns panos muito brancos
que alvejados de anil
doem os olhos do menino
(mais tarde se descobrirá poeta)

III

incomoda-me a lua cheia
e sua menina andando
de braços apertados
em uma braça de flores
que não estão ali

ou de braços abertos
tentando enlaçar o vento
com seus dengos

com olhos de regato seco
e sardas na cara
que pisa insolente
nas águas do rio em que me banho

(ou não serão mais
as mesmas águas?)

IV

pois que todas as coisas
tem um nome
e este nome as pariu