sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

o cubo

Edson Bueno de Camargo


ainda o útero terroso
caminha de mãos dadas
as odes ao outro calar

ruídos acompanham o passado do vento
outra ordem das coisas
buscam asilo em teus olhos


o cubo
o feminino perdido da antiguidade
de homens que se emasculam
de modo sagrado
e emanam o sangue aspergido à terra
à maneira da menstruação das mulheres

estas sim que sempre fertilizam o chão
garantem que as sementes germinem

quartos de inverno

Edson Bueno de Camargo


guardar folhas em casamatas
para os quartos de inverno
após a hecatombe nuclear

virar-se para o lado direito da cama
e mergulhar no esquecimento

observar o minguar de uma rosa em um copo
até que caiam as últimas pétalas

assim estar preparado para o poema
que cruza avenidas em tardes de inverno
esquece os caminhos dormidos
e recolhe o perfume das coisas já mortas

única linha

Edson Bueno de Camargo



dissecar com delicadeza asas de borboleta
nervura por nervura expostos
até que não reste única linha

com os pedaços de cores
montar um mapa de buscar precipícios da alma

beber as bordas da lua nova
à luz rarefeita de olhos castanho-claros molhados

ocaso da tarde

Edson Bueno de Camargo


o instrumento de percussão do grilo
preenche com sua música
todo o espaço de um quarto
ao término do dia

a escuridão que vem com o ocaso da tarde
pede aparelho mais preciso
e outro tipo de melodia

ventos alísios

Edson Bueno de Camargo

1 –

algo no poema
está entre construir catedrais de ar
e descobrir a quadradura do círculo

o poeta contemporâneo
está para reinventar a busca medieval
por um moto contínuo
ou renovar a linguagem usando apenas termos arcaicos

2 –

a corrida a favor de ventos alísios
fatalmente termina em tomar chuva pelas costas
assim como os barcos que partirão junto com as monções