quinta-feira, 27 de março de 2008

centro geodésico

Edson Bueno de Camargo

há um bezerro alucinado
correndo com suas coxas de cobre
e cascos de pederneira
ateando fogo no mundo
e apagado em seguida
por anjos de asas bem aparadas

sua língua lambe luas
estrelas que não germinaram
e trípticos holandeses ainda cheirando a tinta

( a erva é tão fresca nos prados representados)

um escuro azul
preso no centro de minha mão
que escorre com o limo das eras
da devastação
que vive presa entre as dimensões paralelas
algo entre o centro geodésico da circunferência da íris
e o último átomo da ponta de uma agulha

aço

Edson Bueno de Camargo

borboletas com asas
de aço
buscam ventos ascendentes
em seu primeiro vôo solo


tomam a recuperar do cristal a crisálida
pousadas em crisântemos
vermelho-cálidos

coleante

Edson Bueno de Camargo

tu que tens nenúfares
pintados com os olhos
aquarela viscosa de humores líquidos
vitral de nervos e luminescências
e lentes de caçar sóis enegrecidos

tu que navegas o ventre liso e coleante
dança de víboras assassinas
arrepios ao leve toque

tu que presencias
rapto de estrelas
e estelas das estradas

cuide que as escamas
estejam bem guardadas
que o dia que predizes nas dobras das vestes das sacerdotisas
acontece logo