Edson Bueno de Camargo
hoje
a poesia me abandonou
no deserto
na beira de uma cisterna seca
com pedras em suspensão
de cada seixo rolado
abandonado ao fundo
palavras e letras se espelham
o deserto é branco
celulose selvagem
tecido fibra por fibra
a água espera em algum manancial
a língua (seca) escassa
tem pressa
as pedras enchem minha boca
em algum alívio mineral
assim como as serpentes
que fogem do sol escaldante
o deserto é um mar que morreu um dia
o sal que ficou
agora dói em meus olhos
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