quinta-feira, 7 de outubro de 2010

sexo dos insetos



Edson Bueno de Camargo




1

este ano
o inverno foi mais duro
nossos ossos ressequidos? gastos?
desenham o frio em cada cristal de cálcio
depositam flores de crisântemo
sobre o barro cozido

as estrelas mortas
vivem, em nós
fizeram-se carbono e carne
e querem nos devolver á terra
nossas dores pedem descanso
mortos não sentem nada

a água já não mata a sede
é amargo o alimento
morrer é como dormir
nos braços da mãe
sem ter de acordar depois
neste estranho salmo sem deus

2

o silêncio da casa
tenta estancar
o vento
que jorra lá fora
( o céu enferrujado engendra
furacões em seu ventre)

as flores da pitangueira
caem estéreis
sem o sexo dos insetos
não pode haver frutos nesta primavera

os sapos coaxam a noite
que hoje
se constrói sem lua e estrelas

Um comentário:

José Carlos Brandão disse...

No entanto, ansiamos pela vida. É preciso continuar. A poesia nos diz que a vida não morreu, as plantas e os animais gritam pela vida.
Um grande abraço, Edson.