quinta-feira, 25 de março de 2010

a fome

 Traudi Ingrid Meurer



Edson Bueno de Camargo


recobrou o olho
e este tinha fome
a fome insaciável dos olhos

e o olho cobrou a fome
desde os tempos imemoriais da fome

o quanto dar de comer ao olho
se este não se sacia

quanto de velhas fotografias
tanto de livros amarelos
jornais dobrados até se tornarem quebradiços
cartas de amor não correspondido
e flores e frutos secos guardados em gavetas

quanto de moedas antigas
de quinquilharias


a fome voraz de papéis velhos
e dedos envelhecidos
óculos para miopia

de tantos e todos tempos e temperos
que calaram em renascimentos

e ai se destilou o dia
com a luz coada
de olhares furtivos pela janela
e seus vidros ensebados e turvos
cor que se esmaecia

2 comentários:

Sônia Brandão disse...

Como saciar a fome dos olhos ávidos?

abs

Edson Bueno de Camargo disse...

Sendo que a poesia é água que se bebe e não mata a sede. Porque pede sempre mais.