domingo, 28 de junho de 2009

Rio Claro

Edson Bueno de Camargo

a flor da serralha
amarela meio Sol da tarde
meio gema de ovo cozido

as folhas escalas verdes
flor de todo lugar
e bombardeiros sementes
no vento sem peso

Rio Claro
a massa de ar carrega leve a rua
de braços abertos e olhos fechados
minúsculas ondas na areia
um deserto miniatura na porta da casa velha

abraçados pelo oxigênio do dia
corríamos descalços
como se livres dos sapatos
estivéssemos também da vida
minha avó no fundo da sala
(e seus bordados)
meu avô sentado nos degraus
pitando a palha

depois açúcar cristal de colherinha
com o gosto áspero de primeira infância
o que era simplicidade
para nós era um prêmio

eram verões de dias longos
camisa suada
e céu de aquarela
calças curtas
e canelas esfoladas de subir em jabuticabeiras

grandes bicicletas de aros longos
mal cabíamos de satisfação

perseguíamos o Sol
para que o dia não terminasse

2 comentários:

Rafael Medeiros disse...

Magníficas imagens poéticas!

Anônimo disse...

Maravilhoso!