quarta-feira, 12 de agosto de 2009

aquela tarde

Edson Bueno de Camargo

não havia flores na janela
nenhum verde conversava com aquela tarde

toda a terra agreste
como este gole de secura
como este galo que não canta
que tomava madeiras velhas
e cercas malcuidadas

o ar caminhava em grandes blocos
nenhum perdão para o calor
pedaço de ferro e ferrugem
ferramentas que perderam a função

junção de entroncamentos mudos
esqueletos de canos expostos
saudades de gotas na torneira aberta

cada dia que nasce
é de uma tristeza de ninho vazio
tão grande que abraça este ermo
de vidro esperando o corte

corpos exportados para a distância
cada vez mais longe
cada vez mais nunca

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