Edson Bueno de Camargo
as velhas carpideiras
derramam um rio salgado
nos granitos abandonados da rua
olho de sal dolorido
difícil de digerir
vermelho e amargo
seis azulejos brancos da parede
solidão da ausência de cor
não pesam ainda o amarelo dos anos
o que espera
não pesa mais que o ar
silêncio sem destino
cortejo de flores murchas
coroa de brancas e amarelas
o que foi possível para agora
o que lhe cabe de sua sina
formigas mordem a terra
e escavam suas pequenas vidas
são suas casas também suas covas
aqui se operam seus ciclos
o homem se iguala ao inseto de seis patas
quanto mais perto está
do fim de sua jornada
sua roupa se torna mortalha
o outro mundo também é aqui
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