terça-feira, 16 de junho de 2009

nada é por acaso

Edson Bueno de Camargo

esta noite
e seu cardume de sonhos afogados
água turva
que cobre o corpo da desesperada e inocente suicida
e seu colar de flores e ramos silvestres

(não confiou no canto do amado
que louco lhe confessou tudo)

cobre a superfície desta poça
de vidros e escamas
e tudo mais que é transparente e brilha
canto lírico
de barcos à deriva e a tripulação louca
rebentam em bancos de areia
onde esperam sereias
seduzem para o banquete

nada é por acaso
muito menos esta noite estreita de obuses
campos incendiados
em uma sinfonia de graves desafinados
de trompas mudas como a voz dos elefantes
(no entanto escuto)

a chuva cai
indiferente
assim como as lágrimas
assim como o calar

2 comentários:

Jorge de Barros disse...

Ismália?
Ofélia?

Edson Bueno de Camargo disse...

Pensei em Ofélia e o jovem Hamlet.