terça-feira, 30 de maio de 2006

óbolo

Edson Bueno de Camargo

um peixe grotesco
ronda no quintal
(minha mãe imagina como espantá-lo)

a espada de Salomão
não expede mais justiça
o fio está cego
navalha abandonada na gaveta
cujo fio oxidado
guarda vestígios de sangue

(suicidas na banheira
os pulsos jorrando)

o ouro comestível
acrescenta com farinha

(os períodos longos
só chegarão na quinta)

o azeite jorra do sampo
mas não há mais leite e mel
os dentes do moinho
trituram elos do destino

com o ouro e a prata
tecem cordas para meu funeral

sobre a língua
um óbolo como pílula
ouro por açúcar

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