domingo, 14 de maio de 2006

dois lumes à mão

Edson Bueno de Camargo

o homem carrega dois lumes à mão
a mulher a luz dentro da boca

e eu esqueço do sexo sangrando
quando do retorno da dor
algo quebrou aqui dentro de mim

minha mãe me deu
mais do que a dádiva
uma pedra negra e o cheiro de escuro
a pérola pingando azeite
na lamparina que não acende

mais tarde
o suor de minha filha
no parto de meu neto
tornou ainda sagrada minha dor
de existir além de minha vida
de ser mais à frente de meu ser

(se já morri
porque ando entre os vivos?)

porquanto o nervo exposto
do dente que nunca arranquei
a morte a mim destinada
mais um vez a perdi

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