Edson Bueno de Camargo
1_
decifrar o conteúdo
das gavetas
como cartomante cega
que tateia os sulcos das mãos
lendo o futuro em braile
do fruto selvagem
que se desidrata
(como marcador do tempo)
e denuncia
sementes dispersas
carregadas de presságio
(e possibilidades interrompidas)
2_
acreditar na promessa
que segreda cada lume
que o vento não trouxe
ainda pode cortar
a navalha enferrujada
que caiu no ostracismo e anacronismo
brincos de cigana
(nunca usados)
papeis amarelos
com sua escrita roxa
moedas de rincões desconhecidos
países que não constam mais
em compêndios e mapas
as fronteiras foram (inter)rompidas
pelas esteiras dos tanques
e tiranos perturbadores
(outros pela geopolítica do ódio
e do racismo)
3 _
haverão (sempre)
cartas que
nunca serão lidas
números de tômbola
e naipes que se destacaram dos baralhos
pedras de mica
e turmalinas sem nenhum valor
4_
sempre sinto que é meu
o lugar do enforcado
carrego o ás de espadas
o gládio negro do destino
cravado em pelo
5_
sempre haverá margaridas selvagens
e dentes de leão
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