quarta-feira, 24 de maio de 2006

decifrar o conteúdo

Edson Bueno de Camargo


1_

se pudesse
decifrar o conteúdo
das gavetas

como cartomante cega
que tateia os sulcos das mãos
lendo o futuro em braile

do fruto selvagem
que se desidrata
(como marcador do tempo)
e denuncia

sementes dispersas
carregadas de presságio
(e possibilidades interrompidas)


2_

acreditar na promessa
que segreda cada lume
que o vento não trouxe

ainda pode cortar
a navalha enferrujada
que caiu no ostracismo e anacronismo

brincos de cigana
(nunca usados)
papeis amarelos
com sua escrita roxa

moedas de rincões desconhecidos
países que não constam mais
em compêndios e mapas

as fronteiras foram (inter)rompidas
pelas esteiras dos tanques
e tiranos perturbadores

(outros pela geopolítica do ódio
e do racismo)
3 _

haverão (sempre)
cartas que
nunca serão lidas

números de tômbola
e naipes que se destacaram dos baralhos

pedras de mica
e turmalinas sem nenhum valor

4_

sempre sinto que é meu
o lugar do enforcado

carrego o ás de espadas
o gládio negro do destino
cravado em pelo

5_

sempre haverá margaridas selvagens
e dentes de leão

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