domingo, 9 de abril de 2006

uma lagarta de fogo

Edson Bueno de Camargo


afagar os pelos
de uma lagarta de fogo
se afastar da dor e da febre

escutar os lamentos da pele
o eriçamento dos pelos
o veneno dos olhos

romper para dentro
a casca crisálida
libertar a libélula
fazer o sexo das efêmeras

afastar dos pelos da entrada
provar com um beijo
o amargo do orgasmo

abraçar com desejo a morte
disputar o abismo
dançar sobre espadas

isso me promete a carta do Enforcado
receber a visita do errante
demandar ao enigma da Esfinge
o seu nascimento nobre

quem terá condescendência de ser seu próprio carrasco?
quem diante do júri implorará clemência?
quem diante das grades de sua própria demência?

porque do arame fardado
tecido de suas vestes
lamentará todo ocorrido
para de novo cair em soberba

e provar da colher de chumbo derretido sobre a língua
e ter o apêndice de seu sexo arrancado
numa orgia de abelhas assassinas dos zangões que as defloram

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