terça-feira, 25 de abril de 2006

linguagem dos olhos

Edson Bueno de Camargo


permanecer com os meus pés na terra
até criarem raízes
permanecer em silêncio
sobre um colo feminino
até os olhos falarem
e com a linguagem dos olhos
podar todas asas

aludir o sentido da água parada
e criar o movimento onde não é mais possível
obter a aspereza de um tufo de plumas
e com ela lixar a superfície da córnea
até obter o mais branco exato

tomar por ordem a entropia
e saudar os rinocerontes que voam no inverno
com cal do meio fio
pedra por pedra
até que só reste o cinzel

beijar uma boca do caos
e entornar todas as preces vazias
fazer um rosário com a ponta dos dedos


e fiar com os pelos da púbis
uma roupa de ficar escondido

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