segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

coisas de monstro

Pieter Brueghel, o Velho (flamengo; c. 1520/30-1569). O País da Cocagna, 1567. Óleo sobre painel, 52 x 78 cm


Edson Bueno de Camargo

cristalino perdido
dentre os dentes da alma
congelado à espera
onde se esconde o fogo

como Prometeu
esperei doar o fogo aos homens
e ao invés de calor
trouxe-lhes o frio

porque o ente humano
que caminha na certeza absoluta
torna-se um monstro
e faz coisas de monstro
e diz coisas de monstro
e será banido como tal

não espero mais o amor da humanidade
a paz celestial
ou cocanha eterna
troco por uma passagem para a nau dos insensatos

hoje
contento-me mais com uma migalha de desejo
uma velhice tranqüila
meu neto correndo pela casa
e a luz de uns certos olhos

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