Edson Bueno de Camargo
1
sombrinha de doze varas
sobre o pano
dormem quinquilharias
“compra senhoro”
a mulher tem cabelos brancos
e sotaque romani
a cigana insiste
guarda-chuva chinês de muitas cores
buquês de flores
transbordam cores na seda falsa
(está caro
penso
não compro)
“faz mais barato
paga diferença depois”
já não ouço mais
minha mente já está longe
rouba o cinza do céu
e dos olhos que me fitam
uma certa indiferença
2
a árvore morta
serve de moldura
a fotografia que não tiro
(esta será só com os olhos)
pequenos pássaros
na distância parecem pretos
hoje o dia está com pouca luz
3
flores de dente de leão
pedem o sol
que a tarde nos nega
sua cor destoa
do que nossos olhos esperam
4
a mangueira
tem tantas flores
que lhe pedem os galhos
não sabe a planta
não estar em um vale
ensolarado do Ghanges ou do Indo
faz o papel ambíguo
de florescer neste planalto frio
a guardar o silêncio do horizonte esbranquiçado
5
nada muda o que sinto
a tarde só fala o que está dentro de mim
9 comentários:
Edson, li seus últimos poemas - fluindo da ponta dos dedos, com a escuridão na palma da mão - isto é, com a beleza e a dor conjugadas.
Um abração.
Maravilhoso.
Lindo! Ah...
Beijo.
Maravilhoso...Tudo!
:)
http://pulsarpoetico.zip.net
O poema começa longe e vai se aproximando até acabar (ou começar) dentro de ti, de mim...
De repente, meus olhos encheram
de beleza enchente.
É assim quando o que habita o poeta
transborda.
Um abraço.
Edson, é sempre agradável passar por aqui.
Um abraço.
Tudo muito, muito bonito, Edson. Pude ver o cenário. E este final é genial. Às vezes tua poesia me lembra muito a poesia do Brandão. Gosto demais. Dois poetas que admiro. Beijo!
Creio que eu e o Brandão sofremos de uma doença incurável, a nostalgia.
A melancolia é prima irmã da poesia.
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