Edson Bueno de Camargo
um peixe grotesco
ronda no quintal
(minha mãe imagina como espantá-lo)
a espada de Salomão
não expede mais justiça
o fio está cego
navalha abandonada na gaveta
cujo fio oxidado
guarda vestígios de sangue
(suicidas na banheira
os pulsos jorrando)
o ouro comestível
acrescenta com farinha
(os períodos longos
só chegarão na quinta)
o azeite jorra do sampo
mas não há mais leite e mel
os dentes do moinho
trituram elos do destino
com o ouro e a prata
tecem cordas para meu funeral
sobre a língua
um óbolo como pílula
ouro por açúcar