Edson Bueno de Camargo
às vezes
admirava-me
quando olhavas sem sorriso
e a noite engolia teus cabelos
mergulhados aos poucos em uma grande tina
a água que refletia estrelas
e a luz morta
que atravessou o espaço
e o lago de teus olhos imensos
desejo de chorar em escamas
abraçadas aos cântaros
escadas para o céu
tocavam insistentes no éter
e no velho rádio na sala
e esta cozinha
era uma pista imensa de deslizes
não mais sabia
que viver não era mais que isso
catar fragmentos de raios cósmicos
que perfuravam o vidro da janela
e observar lento e persistente
a chama de uma vela ao se consumir
incorporando seu combustível ao ar
até que este se extinga
meus papéis senis perdidos de seu sentido
e livros amontoados aos cantos e estantes indeléveis
poetas vociferando canções lúgubres
marcha soldado sem direção
e rebeliões que se dissolviam em terebentina e álcool
:
enquanto isso
cebolas e batatas ferviam
em borbulhantes panelas
com seus diálogos e estouros e borbulhares
eu olhava pelos vidros
e com um dedo infantil
garatujava um nome na neblina
enquanto olhos me observavam da possível floresta
nós nascíamos todos os dias como narcisos
e voltávamos e voltávamos sempre
2 comentários:
belo!
é lindo demais...
sei os motivos da Adélia Prado te emocionar tanto...
beleza é espelho, se a viu? já era (a) tua!
beijos,
Giselle Zamboni
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