segunda-feira, 28 de junho de 2010

a parte que te cabe





Edson Bueno de Camargo


para o amigo Celso de Alencar

Circe
amarrou a Ulisses
com não correntes
usou os músculos de sua vagina

mesmo estando em êxtase
a saudade de seu chão
e do cheiro do esterco das ovelhas
o chamavam para casa
e se libertou

Circe disse fica
mas Ítaca clamou mais alto

o esperava em casa
uma vagina mais mansa
e doméstica
sem grandes bailados
e malabarismos
mas que demonstrou um furor selvagem
ao se fechar aos machos
que não eram para ela

e na vingança e na morte
se abriu em sorriso
enquanto seu homem
trespassava seus adversários com flechas

nas noites que se seguiram
Ulisses não sentiu saudades
da insaciável bruxa deusa

Penélope
cansada de tecer
exigiu a parte do homem
que lhe cabia

Um comentário:

Flávio Antunes Soares disse...

Ótimo poema! Me deixou pensativo.