terça-feira, 17 de junho de 2008

hecatombes

Edson Bueno de Camargo


como podes dizer de mergulhar no vazio
quando o abismo fala mais doce hoje
e as pétalas de ontem nos convidam à escuridão
jazem no chão de outono
em silêncio pós hecatombes nucleares

possibilidades de língua de dragão
e dentes de outro elemento plúmbeo
quando o argonauta planta guerreiros armados
e ciclones na boca aberta

todo homem quer ser amado
embalado novamente em colo quente
absorver-se em um seio imenso e reconfortante
de branco papel e pergaminho
que envolve a dor de ser para sempre sozinho
no íntimo da alma desolada
quando lhe cortam o cordão e funciona a corda
triste ironia de fibras musculares e jorro de sangue

somos todos narcisos condenados
a observar nossos umbigos
cicatrizados na separação de nossa vontade
de resumir paraísos de conforto
(e nem sempre a todos de amabilidade)
quando mergulhados em água morna
e delicada penumbra
a espera de um mundo
que depois deserdados e desterrados
nunca de fato nos apropriamos

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