sábado, 5 de abril de 2008

amiúde

Edson Bueno de Camargo

uma lâmina de machado
fita longo o tempo, uma esmeralda
líquida
que cobre a areia
de cinzas vulcânicas
gozo de deusa

(calor de vulcões
que recusa o tabernáculo,
onde não entram fêmeas)

há um grito neolítico encravado na espinha dorsal
cortam pelos e madeiras cruas
crânios tomados ao inimigo

a orelha estabelece dois pontos
de fuga
em sangue encardido

comem as nuvens vermes ancestrais
criaturas que primeiro sonharam e se sentiram
que produzem duas luas plenas e férteis
derramadas
de amargo medo e coisas pequenas

amiúde o tempo fermentou das dádivas
dos novos deuses

(mas, não se calaram os mais velhos)

cabem em folhas de carvalho
marrom claras quase terra
uma dança ocre
recobre faces novas
e copas de chifres

bebamos

2 comentários:

Ana Maria Costa disse...

Belíssimos poemas, gostei muito!

Abraço!

José Carlos Brandão disse...

Criei esse novo blog porque estava cheio do outro, nem lincar eu não conseguia. Mas logo desanimei. Voltei esses dias, espero continuar. Como a poesia: faço principalmente para mim.
Gosto de ver o Lagarta de Fogo. Gosto da sua poesia. Sinto-a bem próxima da minha. Ou eu estive fazendo esse tipo de imagens que você faz - quando tinha a sua idade. Não sei se me lembrei de que era mais velho e voltei aos trilhos antigos. Ou voltei porque era mais velho (não porque me lembrei) e tinha aprendido a andar em outros trilhos - ou trilhas, para não me chamar de tão bitolado. O fato é que eu navego em muitas águas. Bom. Falei demais. Espero que tenha compreendido que os nossos poemas não se repelem tanto. Aliás, poesia alguma se repele. E gostei especialmente do "centro geodésico".
Abraços!