quarta-feira, 30 de abril de 2008

uma cigarra

Edson Bueno de Camargo

uma cigarra
afina sua viola de jade
que em sua cor esmeralda
soa como botões de jasmim
em cinco pétalas brancas
com a alma amarela
outras flores e ramos de bétula

o som tem gosto de açúcar
sentido pela primeira vez
tomado em garrafas de néctar
e colherinhas de alpaca

a harmonia refrata tons verde metálicos
roubados das roupas de besouros
ao sol depois da chuva
emprestam sem saber as couraças
a voz ao instrumento
quando começa o cair da tarde

um grilo toca seu violino de cobre
que tomou ao enternecer à tarde
em uma febre de temer que noite caia
e nunca volte o dia

sapos acompanham com sua orquestra
de tímpanos, trompas e fagotes
concertando desde o lago

a cigarra em uníssono
o besouro e seus cornos de ouro e zinco
(cornucópia perdida aos seres)
o grilo e seu ofício
os sapos ferreiros a frio
(para o medo das fadas)

o azul se desmonta em bronze
o acaso do dia em naufrágio
as nuvens de algodão doce
os jasmins dormem á noite
quando não escutamos sua cor

o lago responde ao universo
contando suas próprias estrelas
mimo que se dá de presente todas as noites
pingos de luz no liso da água
e uma lua para poetas embriagados

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