segunda-feira, 12 de junho de 2006

ao cair os restos

Edson Bueno de Camargo
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ao cair os restos da tarde
em trapos de bandeira
espalma a fina poeira
recolhe-os na palma aberta

contrários entre si são os jogos
auto-sedução e comiseração
perdidos em auto flagelo

os dados atirados ao acaso
ricocheteiam no tampo da mesa
observo bolas pretas
sulcadas em velho marfim
(amarelo e com micro-trincas)
se confundem ao buscar
o pano verde e horizonte

não há amigos
quem são os que se vislumbram
nos outros cômodos
escondidos que estão
nas frinchas do assoalho
no smog da noite e cigarros

repleto de olhos tristes
ao mesmo tempo vingativos
neblinas acusadoras

a esses
servimos adagas e garfos
forma de peixe e cabos de ágatas azuis
sobre baixelas de prata e gelo
(o gelo fino dos trópicos)

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as cartas se abrir
e sem resposta
sussurram arengas antigas
(guardadas num baú
ainda sob a cama)

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tenho vivido como que morto todos os dias
ressuscito a fórceps todas a manhãs
remorro de novo ao escurecer

não há gozo sobre a glória efêmera
não o menor prazer sem conseqüências
remorsos com pontas de diamantes

eu que tenho todas as respostas
procuro perguntas aos forasteiros
e monges mendicantes de pés feridos

folheio um novo livro
o Oráculo Pessoal
de Baltazar Gracián

o prudente é invisível
aos olhos de todo o Mal

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