Edson Bueno de Camargo
quando
trouxeram o corpo
da mãe
envolta em algas apodrecidas
enrolaram seus cabelos com as mãos
e fizeram do sangue que escorria
e do pranto
a mortalha
porque o caís à noite
é visto como uma muralha instransponível
e os titãs de chapas de aço enferrujados
fazem da estrutura pouso
são luzes irreais
e mal iluminam a faina
de mãos e bocas estrangeiras
moídas e feitas carga
e corre o cheiro baço
e o perfume inconveniente
das vaginas das moças prostitutas
dedicadas e tensas
no aguarde de sua vez de trabalhar
no descanso do sêmen derramado
e os pederastas exilados
sempre voltam de mãos vazias
mas suas mães os esperam
(descer à terra é um parto que se repete)
e as pedras que se derramaram no mar
dormem profundos sonos
sob às águas barrentas
e o sumo dos navios atracados
e cada peixe que sobrevive no canal
é uma sepultura que nada
em seus estômagos jazem
tantos marinheiros devorados nas profundezas
e agora este luto infinito
que se entende como corda no horizonte
e em seu canto de corais engastados às âncoras
o mar rebenta como um mantra
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