Edson Bueno de Camargo
és como foi minha avozinha
lenço amarrado na cabeça
olhos grandes de olhar comprido
destes que devoram tudo com carinho
e cuidado
gente de granito e pés suaves
mesmo para trilha de pedras
muheres com dobras e rugas
quase uma centena de anos cansados
rostos com sombras
e o dedo com o osso apontado
mulheres de parar o vento com o silêncio
e mover pedras com o sussurrar
constroem casas com barro
cacimbas no seco
donas da terra e da água
e aproximam o ventre do ar
senhoras que vestem o mundo
e tecem com os panos
e fiam o algodão das nuvens
ai que os anjos esfarrapados da caatinga
os anjos vaqueiros e pascentadores de bodes
os anjos moleques a tramar travessuras
os anjos de todas as partes e os afogados
e o louco poeta na margem da metrôpole
todos param para ouvir
um pedaço de cana soar as trombetas do céu
Um comentário:
De arrepiar João Cabral. Lindíssimo poema, na verdade, todos aqui escritos.
Beijo.
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