sábado, 17 de julho de 2010

dragão

S. Jorge (Franceschini, 1718)



Edson Bueno de Camargo

e toda profecia
que lhe saía das mãos
era uma sentença torta
epístolas postas na mesa
sem direito e direção

era festa na aldeia
ou se assemelhava
algo que voava
entre fitas lilases
e milagres de vinho e pão

e todo vento
que me chegava
era embriagado
estopa embebida em vinagre
deuses bentos em oração

e sob luz de candeias e voltas
toda a reza tinha um certo destino
olhares de menina triste
rosas verdes no parapeito
e medo de assombração

naquela noite não dormi direito
São Jorge não era meu amigo ainda
olhava-me firme junto à janela
com o cavalo empinando
e debaixo mais condescendente
com todos os seus dentes
ria de mim o dragão

4 comentários:

Unknown disse...

que deleite anímico ler teus poemas...

...a alma flanando em letras!

grata,


beijo grande,


Giselle Zamboni

Rafael Medeiros disse...

Como sempre, não vou destruir teu poema com palavras bobas. Mas estou por aqui, acariciando tuas lagatas ígneas.

Evoé!

Anônimo disse...

Phoda!

José Carlos Brandão disse...

Edson, poesia que vem de uma ânsia de fé - a fé simples do povo, que cria, que, por si só, já é poesia.
Abração.