quarta-feira, 13 de maio de 2009

pálpebra

Edson Bueno de Camargo

a minha pálpebra esquerda
carrega o peso de uma casa
casa de amplos ambientes
salas e objetos em desordem

o peso cronômetro
aumenta ao movimento do ponteiro
a minha pálpebra canhestra
já desdobra
como um vício

porque a água que a casa traz
já comeu séculos de vento
e a chuva precipita à chegada da tarde

monjolos batem igual a um ponto
batuque de grão esmagado
ritmo sem pressa da farinha grosseira
das que os dias nunca terminam
e nunca ninguém passa fome

a pálpebra verga à noite
quando finalmente durmo

Um comentário:

Adrianna Coelho disse...


E é a pálpebra esquerda...

Adorei esse poema, do começo ao fim, sem pestanejar.

Muito bom!