sábado, 3 de maio de 2008

betume

Edson Bueno de Camargo

tua voz de farpas agudas
e morte suave
conduz meus olhos
à fusão de betume e incêndios

o vestido de eras incertas
e insetos coletados no tempo
é o âmbar de lágrimas da pedra
caminhos cruzados em trilhos de ferro
e a água que cai lenta nas madrugadas

cabelos brancos e gotículas de leite
cabelos molhados e quentes
a íris e fragmentos microscópios de quartzo

lábio que lava o mel e o fel
o amargor da dor e do silêncio
as línguas lambidas de fogo
e outros lábios
o vermelho aparente da excitação e combustão

cães correm nas ruas
e corvos posam nas telhas mais altas
olhos de glóbulos de cristal de ler o futuro
vidro, água e espuma

os podres vãos da ponte
ameaçam a desabar
a cidade não suporta a sua velha idade
se expulsa de si

anjos renegados também abençoam

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