terça-feira, 13 de maio de 2008

a balança

Edson Bueno de Camargo


a balança onde se mede minha cabeça
pende ora para um lado, ora para outro
tem por fiel um fio de teu cabelo
carvões em brasa servem de peso
porque quando incandescentes
buscam para si a cor do ouro

há uma brasa viva
em teu olho esquerdo
e água abundante em tua face
língua que corta
como espada da justiça de Salomão

teus cabelos chicotes de aço
retalham a pele de papiro úmido
devoro feridas abertas
com a avidez de noviço
e as regurgito em cicatrizes orgulhosas

sonho com balanças que pesam peixe na praça
com escamas que emulam o cristal mais liso
e olhos vítreos e fixos em profundo segredo
costuro pedras de peixe e círios apagados

é para a morte que o mar me convida
vagas trazem o grito do pesadelo
estouram com estrondo em meio a escuridão
vasto cemitério molhado
ondas com nomes de túmulos
sepultura que sonega os ossos dos condenados

teu olho direito me consola e perdoa
tem ali um fogo lento e caridoso
oferece teu seio direito para descanso de cabeça
ali confortável espero a sentença

2 comentários:

Anônimo disse...

Se colocar de um lado as palavras e do outro o coração, certamente sua balança permanecerá equilibrada e o descanso no seio, apenas o prêmio de permanecer sem culpas ao lado da mulher amada.

Como sempre belas palavras, meu caro amigo poeta.

Edson Bueno de Camargo disse...

As palavras certas buscam o belo, se pudesse catar os restos do banquete dos grandes homens sábios, talvez com sorte consiga vislumbrar o belo.

Grato pela deferência,