sábado, 30 de setembro de 2006

verde incandescente

Edson Bueno de Camargo

vírus lâmpadas
vidro orgânico e luminescências
essencial verde incandescente

lanterninhas japonesas
lançadas à estrada
coleópteros fosforescentes
pedras medonhas

sonhos com fogos fátuos
e incêndios misteriosos

calar a boca do campo
portais e esteios de madeira antiga

ouvir a voz do vento

fagulhas e centelhas

Edson Bueno de Camargo

a monja
rompe o ar da sala
indiferente aos presentes
pousa na parede

antenas vibram o caos
sinos reverberam inoportunos
de igrejas e fé ausentes

Cristo morreu de novo
hoje bem cedo
nas orações de uma velhinha

fagulhas e centelhas
fragmentos de estrelas posavam em seus olhos

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

crisálidas

Edson Bueno de Camargo

crisálidas
se quebram como quartzo orgânico
lento
de dentro para fora
cujo receio é não ter forças

e se rompe no momento certo
em qualquer espaço de tempo
entre o princípio de tudo e a certa medida

o homem novo não tem medo de escuro
as varetas
dando a vaticínio errado

homem e a mulher novos
tem os dentes brilhantes e posam no outdoor
vestem camisas brancas
e sapatos azuis

as mariposas
impassíveis a tudo
mudam de cor e de lugar

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

óleo queimado

Edson Bueno de Camargo

trata-se de nós em linhas cruzadas
babylook escrito Jesus
e a calcinha vermelha aparecendo uma renda
(fosse outro tempo arriscava um sorriso)

espelhos de espeluncas no metal carcomido
enquanto observo
bares de beira de estrada, puteiros, paradas de caminhões

há um cheiro brusco entre fresca poeira
urina antiga
diesel
gasolina

tambores transbordando de óleo queimado
num solo miserável e estéril
onde teimosos nascem dentes de leão selvagens

e som do universo ecoando nesta estrada

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

a fome de Jó

Edson Bueno de Camargo

estratosféricos aludem
planisférios azuis
da janela deste andar
panelas, lagos e pingos

planetários de furos no teto
seus passos cintilam estrelas
quando ouço um samba antigo
o som é tão velho que parece sair das paredes

cigarros acessos
atormentam o tempo
incensos de fumaça branca
o papel e o fumo
os anseios e as ânsias no banheiro
e o vaticínio no espelho batom

era vermelho
e a lua branqueava metade do céu
enquanto mariposas se postavam ao largo das lâmpadas

a fome de Jó
sua doença
no bolso da bermuda dez reais e cinco cents
alguns florins em Amsterdã
comprarão todo esquecimento necessário à esta noite

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

grãos de peso zero

Edson Bueno de Camargo

o livro vermelho
solidão sobre a mesa
(quanto tempo?)

a poeira secular
denuncia o medo
que espreita

rosas brancas ofertadas
o velho cínico ainda cora
em suas confissões de quase adolescente
lúbrico espera resposta que não encontra
fabular dá menos trabalho que a verdade
e tem sido um bom vinho

seu novo temor é ancestral
é o de entrar na ancestralidade

cortinas de ódio são urdidas
de outra feita o cosmos despencaria
se constitui em
grãos de peso zero em suspensão
iluminuras a fogo de tocha e velas de cera de abelha
o ouro queimado
o azul vegetal

domingo, 3 de setembro de 2006

íris incautas

Edson Bueno de Camargo

o vidro
este que carrega nos olhos
funciona como lacre
das mensagens interrompidas
dão pistas às borboletas amarelas
que introduzem a ilusão antes da morte

há sob a palha
agulhas como nunca houvera
destas que se movem em busca de íris incautas

a fumaça disforme dissolve
o ego e a latria
idólatras e iconoclastas jazem sob a mesma pedra fria
uns sem deuses outros sem significados
em meio ao caos que se forma nas manhãs de domingo

( o sol nasce nas forma de uma imensa cruz ansada )

trevos de sete folhas
brotam no jardim de hortelãs