Edson Bueno de Camargo
no alto de um poste
um homem lê um livro de poemas
a paisagem corre
vertiginosa à sua volta
aquela silhueta
imprime ao horizonte
um não reconhecimento da lógica
o homem lê absorto
em confortável estética
como se fios invisíveis
desenhassem suave poltrona
o olho observador
vê uma queda
iminente demonstração
das leis de Isaak Newton
ou seja
a queda como a de uma maçã de uma árvore
não há construções
de toda a filosofia disponível
que sustentem um homem no ar
ou pior
no alto de um poste de eletricidade
para nós que o vemos
em tal posição de perigo
inspira o medo e a inveja
indiferentes ao homem
e o possível dilema alertado
dois corvos
alçam vôo
criando duas manchas
no azul perfeito do céu da tarde