sexta-feira, 14 de novembro de 2008

sublime

Edson Bueno de Camargo


a criança carrega um Sol na mão
seu calor atinge à todos
(sua luz nos cega indolor)
há uma claridade terna
que envolve

a criança tem um colar de corações fossilizados
roubados àqueles que não sonham
dedos que estão vermelhos de luz atravessada
e não queimam
dentes que transbordam
um sorriso branco
ártico e límpido
de aurora boreal
e caminhadas de ursos brancos sobre a neve
de filhotes de foca
e língua de azul celeste

a criança tem pés suaves como raízes profundas
em busca da água mais fresca
e joelhos de nós de pinheiro
duros como pedra orgânica
e que precisam arder para brotar
cabelos de profunda noite sem fogueiras
(das que carregam medo em seu ventre)
e cheira como a brisa primeira do dia
entre os girassóis

a criança sussurra com lábios
de mel pela primeira vez
voz de pássaro solto da gaiola
de prisioneiro libertado de prisão injusta
e ainda assim silente

a criança fala seu verdadeiro nome
mas surdos ao sublime
não escutamos

6 comentários:

Unknown disse...

Maravilhoso!
Abraço!

Jorge de Barros disse...

Só não sei se é o André ou o pequeno Edson... mas desconfio que sejamos todos nós e o dentro de nós...

José Carlos Brandão disse...

Perdemos a noção do sublime. Que está nos meninos, nas pequenas coisas...
Gostei do caminho da sua poesia.
Abraços.

Beth Brait Alvim disse...

uma lagarta escorreu em meus poros acho que estou com mania obsessiva por lagartas vacas e mariposas se bem que um pássaro morto me deu um grande poema
segundo o hatoum
ele disse
não tema
não mate
não morra

Natália Nunes disse...

Olá, Edson

conheci a sua escrita através da Revista DIVERSOS AFINS, do Fabrício e Leila e gostei muito.

parabéns ;)

Alexandre disse...

Sua poesia é desconcertante, séria e envolvente. Parabéns por possuir esse dom inato.