quinta-feira, 10 de julho de 2008

hortelã

Edson Bueno de Camargo

eu a atravessar a rua
com um pequeno frasco à mão
fumaça sobre asfalto morno após chuva intensa
vidros sujos dos prédios
e lâmpadas velhas a piscar em ruído

eu chaves e uma bala de hortelã no bolso
bilhetes de metrô
e duas moedas de cinco centavos

eu sentado em um sofá velho
vermelho encardido
jornais deslindados
fumando mentolados de contrabando e ervas finas
um livro de poemas todo anotado

eu uma cinza apagada caindo dos dedos amarelos
unhas desleixadas e saudosas de aço

eu depois
ruminando poesia com café preto à tarde
duas colheres de açúcar e muito pouco leite
tudo prestes à acontecer

eu uma dose de uísque com água de torneira
em que meu olhar se perdeu em tom âmbar e triste
sob um par de óculos de leitura

eu uma navalha manchada de sangue
louça de banheiro: branca, fria e triste
uma revoada de pombos à chegada da noite

eu cilindros de oxigênio azul e concentrado
hospital com fachada manchada e chuva e tempo
a esperar que a asma não volte
e respire em sono tranqüilo

eu duas doses de gim antes do jantar
uma mesa coberta com uma toalha floral
uma tulipa a perder pétalas
em um jarro com a água amarela

eu esperando a tua mão
cais que aguarda e mantém
segurar e esperar a noite
até bem tarde

8 comentários:

Jorge de Barros disse...

A forma como vc vai catando imagens... sua poesia lembra aquelas caixas de guardar tranqueiras e tesouros, mania de crianças e velhos...
Gostei bastante desse "HORTELÃ"

Jorge de Barros disse...

A forma como vc vai catando imagens... sua poesia lembra aquelas caixas de guardar tranqueiras e tesouros, mania de crianças e de velhos.
Gostei muito desse "Hortelã"

Edson Bueno de Camargo disse...

É assim que vejo a minha poesia, o meu poético tem um que de assemblage.
Tipo um Jack e Heidel das artes, ora poeta, ora artista plástico.

Anônimo disse...

pombas pela noite?

uísque e gim!!

vou indo de aguardente e refrigerante de torneira

ávido
leitura literatura litaleitura

ao som do Drops de Hortelã do Oswaldo Montenegro

tênue (palido)
sem força
pra cair de hiato no papel

Unknown disse...

pombas pela noite?

uísque e gim!!

eu vou de aguardente e refrigerante de torneira

por aqui

ao som do Drops de Hortelã do Oswaldo Montenegro

tênue (palido)
sem força
pra deitar no papel meu hiato

Edson Bueno de Camargo disse...

Uma boa pinga se toma pura, uma ruim, também. Vez em quando um uísque é um presente para si mesmo.

Unknown disse...

Tenho tateado com os olhos os teus poemas há um mês. A freqüência das doses têem aumentado a cada dia que passa, e não vejo saída para esse vício. Um forte abraço!

Fabrício Brandão disse...

Meu caro Edson!

Poesia de qualidade por aqui! Apreciei muito os teus signos!

Abração!