quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Asa de xícara.

Edson Bueno de Camargo

1

orelha
de xícara asa
fino cristal porcelana

branca sobre a mesa
pequeno filete dourado

dourado o chá
o cheiro de erva doce
e bolo

perfume/manhã interrompido
chama e cigarro

2

cigarras cantam no jardim
sinfonia de cascas de arvore
bétulas e romãs
cinco anos sob a úmida terra
a pele antiga rompida/abandonada

nuvem de gafanhotos passam na janela

3

a terra/pedra cozinha no cadinho
metal incandescente e líquido
lavada com água tridestilada
a asa de corvo
alma luz polarizada

negro bloco de ébano
flor incrustada em pedra basáltica
gárgulas lanças de ferro/terra

fornos ardentes eternos
fogo contínuo
por mil anos queimando
almas e enxofre



4

água/ácido/sulfonados
destila nos beiros
água sulfúrica
sob chão de tábuas
pranchões lisos
chinelos de dedo pisam suaves

operários sem medo
percorrem alameda sem luz

5

por fim acordar assustado
para se perceber
ainda dentro do pesadelo

mosquito
zumbindo a noite
picando dentro da orelha

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