terça-feira, 9 de janeiro de 2007

o cal de um dia inteiro

Edson Bueno de Camargo

tomei uma lágrima
como hóstia de sangue
e me perdi na sua nova

aquela casa ainda se encontra fechada
os gritos mortos perturbam os grilos
vaga-lumes verdes
coletados na aba do chapéu

sorrisos sem carne
consumo de peixe seco
línguas ressecadas em pleno mar

a água é o sal de seus ossos
o cal de um dia inteiro
uma palavra é uma sentença
condena a palavra a ser dura

a guelra afoga oxigênio
ar peso
pedra angular da pirâmide

andar à luz do sol

Edson Bueno de Camargo

ainda a fronteira
que se rompesse a vida
lhe traria de volta
e não olharia para trás em nenhum instante

este poema
suíte de cordas ocas
o som rouco da respiração da morte


hoje ainda é tarda a noite
cacos de louça que sobraram
das esculturas assassinadas

o menino come céu por sua linha
amarra um resto de nuvem
empresta a corda a lira
caio o pano de todos os espetáculos
ruem picadeiros
ardem em fogo as lonas

não haveriam lágrimas o suficiente
para parar a chuva
e uma vez viva
recomporia a luz das sete cores
tomaria das chamas as roupas para andar à luz do sol

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

emaranhados às fibras

Edson Bueno de Camargo

ocupe-se que os gritos dos jovens amantes
fiquem emaranhados às fibras do tecido
e purifique a mistura

ao beber lágrimas
preocupe-se em coar o sangue
em virgens lençóis
anteriores às núpcias
obtendo o sal

deste branco mais puro
destile o cristal primeiro
daquele que se encontra nos prados da primeira cidade

assim será obtido o princípio de tudo

venezianas

Edson Bueno de Camargo

orgasme-se
no calor das lâmpadas
monjas insanas
bailam suas últimas dores

faça o parto de si mesmo
e parta


cuspa no mar
a água pesada chumbo grafite
o cálice de amargo absinto
transporte esferas, estelas e estrelas

neste quarto as janelas
dão
a todos os lugares do mundo

e por instinto medo
nunca espio as venezianas