Edson Bueno de Camargo
respiro flores de plástico em sua fronte
enquanto mosaicos gregos da Anatólia
reclamam de Bizâncio à sua origem
recolho as gotas de orvalho
pérolas nas pontas de seus cabelos
como as agulhas de pinheiro
na manhã de abril de 1979
chovera a pouco, e em todo o terreno alagadiço
pipocavam árias de Wagner
em voz de baixo barítono
não era o incêndio natural daqueles dias
era uma coisa nova
que cheirava a betume
e chorava flores roxas
toda a interrupção é desagradável
pode nos deixar em uma pequena estação de trem
entre nada e lugar algum
em meio a densa neblina com ares de algodão doce
onde crianças devoram todo o açúcar da terra
é irresistível olhar por debaixo da porta
quando os gansos se entopem de cerveja
e cerejas explodem como flores amarelas do Danúbio
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