Edson Bueno de Camargo
ali descobri delicadezas entre escombros
em cidade oculta por florestas
tijolos órfãos
e mato crescendo em liberdade
todos esperam o seu momento
a redenção
a linha que se cruza
no limiar dos tempos
fronteira de espelhos pontiagudos
nossos pecados vão além da voz:
é nos silêncios que a mentira é mais voraz
formigas carnívoras a correr pelas entranhas da vergonha
devorarão a carne dos glóbulos
e beberão o sumo da íris e do cristalino
se não mirar com precisão
para as suas patas e pequeníssimas nervuras
as raízes antigas são antípodas da lógica
olhos sempre denunciarão a dor
lágrimas ocultas se revelam
quando não são queridas
menos ainda esperadas
são sim salgadas como o mar e a maré
ondas que removerão da praia sargaços e esquecimentos
e devolverão madeira de naufrágios
invadirão areias mornas sob os pés
insinuarão joelhos já perdoados
queimarão sem sombra em sol que crispa
o desavisado
há uma violência que espera sob as sombras
ódio de gárgula tomado em pedra
que não se aplacará ao tilintar de óbolos
estes só servem ao pagamento do trabalho dos remos
que impedirão de mergulhar em águas torrentes e turvas
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