Edson Bueno de Camargo
olhos de auscultar escuro
nas longas sombras de outono
em comas sem sonhos
as mesmas coisas sempre
e lentas
medo “in vitro”
as memórias que a água nega
pés de andar desertos
como vento que alisa a areia
uns lábios de esconder palavras
fiando a senha dos abismos
onde elipses de estrelas nascem ao modo de flores
(o silêncio de uma mulher
é mais perigoso que o olhar da Medusa)
caminhar areias vermelhas
barro argiloso seco
craquelado em múltiplas faces
há de se esquecer para poder se lembrar
há um chão movediço sobre as cabeças
asas de pássaro nas orelhas dos livros
onde escrevi um verso infantil
com a tinta não produzida por girinos
Cartago espera sua destruição
não há como se evitar
até os cabelos das mulheres serão armas
quando tudo o que houver será desejo
e àqueles que por ele sucumbiram
salgarão as estruturas da casa
para que não rebrote de novo
mostrando suas brancas paredes
sugarão o limbo de eras e de perpétuo olvidar
tudo pela glória dos deuses
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