terça-feira, 16 de maio de 2006

cronômetro de parede

Edson Bueno de Camargo


“Nomeei-vos três metamorfoses do espírito:
como o espírito tornou-se camelo
e o camelo leão e o leão, por fim criança.
Assim falou Zaratrusta”

Friedrich W. Nietzsche.


o fósforo do riso
o medo compasso
medido na retícula
relógio com dois ponteiros de segundo
cronômetro de parede
um correndo atrás do outro

a desenvoltura do ânimo
respiro da terra
acumula cristais de prata e crisântemos

sopro o outro vidro
àquele sem fronteiras exatas
a agulha que rabisca na pele
arabescos sem sentido
garatujas de idioma imaginável

a letra que partiu minha língua
se inflou de vermelho
os dentes numa bandeja de aço
revela o frio em minha espinha
o temor em cada esquina
aqui dentro do quarto
sentado em minha poltrona de leitura

arrancar as escamas do dragão
com uma pinça de selos
observar com uma lupa de vidro azul
detalhes e filigranas
o mapa da retina do leão

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