terça-feira, 17 de junho de 2008

velocino

Edson Bueno de Camargo

tudo o que queria é ser uma parte (de ti que fosse)
enquanto tudo o que acontecia
eram brumas
águas dançantes
espetáculos pirotécnicos
e paradas circenses infindáveis
(aquele Parque em Paris era mais do que podia me legar;
da grama, passeios e promenades de infinito desejo)

as crianças bizarras sem membros adequados
(carregando o castigo de seus pais)
pés e pernas fora de lugar
usando asas de gato por abanos
deslizando sobre lagartas vivas e roncos de máquinas fumarentas

silvos de serpente nas copas das árvores
(que floresciam arames e flores de prata viva)
infantes e pássaros com penas de mesma cor
que alisavam o tempo todo
mostrando grande garbo
portando colares com dentes de crocodilo e roedores selvagens

a trompa do poente em arco-íris bifocal
confundindo matizes em prisma impreciso
cor de rosa e ciano misturados
utensílio inútil à esta altura da tarde
insetos de bronze tinindo signos
e flores retortas destilando o néctar que faltara aos deuses

fiei-me em teus cílios
quando me fiz pequeno (e ainda me faço)
grão que carrega a potestade
e toda sabedoria helenística clássica

pois todos os teus pelos preciso
do ouro de cada penugem invisível
de todos os arrepios que produzirem
para velocino que me abrigue

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