Edson Bueno de Camargo
língua de salamandra
úmida e esbranquiçada
as patas delicadas sobre vidro moído
subir em paredes é uma ciência antiga
onde anjos rebeldes
revelam a minha nostalgia
presa na traquéia
a aranha
teia veloz de encantos
máquina de comer terra
de tremer de frio com a chuva
lábios vivos e roxos
lívidas passagens bíblicas despovoadas de medo
dedos definhando em solidão
de passos apressados no corredor do hospital
(eu não tinha pressa em nascer,
poderia morrer ali e naquele instante)
no dia em que não viestes
a lascívia dormiu ao relento e só
com colheres de prata à mesa
e xícaras brancas com detalhes de flores lilases
depois o dia de enternecer
chegou tarde
lírios brancos povoaram o jardim
um impulso onírico de velas enfunadas
assassínio de ventos alísios
reli o céu e suas serpentes de prateado agudo
argutos argumentos de véus em chamas
cães sem dono na rua
vadios como nós enlaçados à noite
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