Edson Bueno de Camargo
hoje amanheci com um peixe dentro do ouvido
e este me contava todas as histórias desde o princípio do mundo
de quando as novas coisas ainda eram velhas
vestidas do útero da terra
corri com o chacal e senti o cheiro do medo e o gosto da morte
e me pintei com o sangue do animal que abati
e chorei seu espírito e seu sacrifício
dancei sobre o fogo dos vulcões imemoriais
e respirei de novo pelas guelras o sal do primeiro mar
dormi sob o manto da primeira longa noite
na vigília do primeiro coiote sobre a terra
e a velha anciã me levou para o topo de todos os lugares
e me apontou as estrelas que caiam do céu
e de como somos filhos delas
seus dedos magros e secos se encheram com meus cabelos
e sonhei o sonho de todas as coisas
e que eu estava em todo o lugar
chorei todas as tristezas do mundo
e minhas lágrimas correram como torrentes montanha abaixo
e meus pés criaram raízes
e me tornei uma grande árvore
e fui abatido por um grande raio
e sua voz era como o som que há em tudo
e queimei até só sobrarem cinzas
para que tudo principiasse novamente
e vi minha semente nos olhos de meu neto
2 comentários:
Diferente dos outros poemas seus que tenho guardado, nesse meus pensamentos conseguem se encontrar mais fácil, nos outros demoro bastante. Sou péssima em critica literária... então por enquanto fica o meu "gostei do poema" (mas gostar eu gosto de todos... então...)
O engraçado é que este poema funciona mais ou menos como uma viagem xamânica. Poderia defini-lo como religioso até.
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