Edson Bueno de Camargo
1
uma metralhadora no hospício
este matadouro de almas
inchadas de ócio
frigideira do inferno
com banha de porco fervente
e aromáticos
a cozinhar branda e mente minha alma pequena
andei campeando nas ruas
os pedaços doces de insanidade
que roí com meus dentes quebrados
nas vésperas de meus cinquenta anos
estava longe de casa
(em plácidas paragens)
tentando entender
onde é a minha casa
este portal indecente de espelhos amestrados em fogo
que mostram cada dia
a decadência
bacia com molhos de chaves e moedas
para portas que nunca serão destrancadas
2
Shiva desfia seu rosário de galáxias
enquanto entoa seu canto e tambor
e fico preso seco
e língua
em couro de demônios derrotados
eu que recusei a misericórdia dos deuses
hoje sou cão de seus quintais
a espera de esmolas
esse poema miserável feito de ossos
de fragmentos agudos que me escarificam a pele
sendo cada escara da poesia
uma palavra
3
um relógio de sol
na sombra
uma ampulheta
sem um só grão de areia
a ausência de ponteiros
em um relógio analógico
um cobertor puído
de um orfanato inglês do século XIX
o tempo
a ausência e o frio
4
não há nobreza nenhuma em ser velho
envelhecer não nos torna sábios
talvez pragmáticos e mesquinhos
ou sempre fomos assim
(e não nos soubemos)
desenhando sombras na pedra
desdenhando à soleira da porta
o desprezo pelo sol
5
os fantasmas me cercam o tempo todo
com seus sussurros sem sentido
com suas palavras geladas e indecifráveis
eu detesto que me falem em enigmas
6
um homem não deveria viver mais que seus sonhos
(se os houvesse)
24/07/2013
(poema meu de aniversário, postado uns meses atrasado.)
(foto de Cecília Camargo )
(foto de Cecília Camargo )